4.9.17

O irmão perfeito e a mulher de sonho

"Dizer que são 22 homens a correr atrás de uma bola equivale a dizer que um violino é um pedaço de madeira, ou que o Hamlet é um monte de folhas com tinta".


O leitor sabia que eu sou um irmão mais novo? Se é "fixe"? Bem, tem os seus altos e baixos, como qualquer relação. E cada irmandade resolve as suas brigas de maneira diferente. Há dias vi uma notícia sobre um irmão que esfaqueou o irmão até à morte por este último ter ido para o quarto de ambos os irmãos com a sua namorada. Compreendo a dificuldade em partilhar, neste caso, um quarto. Eu provavelmente faria o mesmo, tal como também comeria o fruto proibido (uma maçã ainda por cima) de Adão e Eva - a perfeição seria aborrecida -, mas com duas ligeiras diferenças: teria matado o meu irmão por ele ter comido a última bolacha de um pacote de Oreo que me estava predestinado, e obviamente, nunca o teria feito à facada. Eu além de não me querer sujar (ainda por cima o sangue custa a sair na lavagem), não gosto de prolongar o sofrimento dado que sou uma pessoa ocupada (sobretudo com comichões no rabo). Seria abatido a tiro e a uma distância segura.

Eu sempre soube que a minha mulher de sonho teria o dom de confeccionar óptimos cozinhados e ainda arranjar tempo para ver futebol comigo e tecer comentários melhores que os do Freitas Lobo que se focam sempre na transição do esférico. Sou da opinião de que um "Isto não presta. Está a chover? Onde é? Qual o objectivo disto? Parecem touros a correr atrás da bola", é razão suficiente para terminar uma relação. Acho que os verdadeiros votos de casamento deveriam ditar a seguinte citação: "Dizer que são 22 homens a correr atrás de uma bola equivale a dizer que um violino é um pedaço de madeira, ou que o Hamlet é um monte de folhas com tinta". Felizmente, é fácil encontrar uma mulher inteligente. Entram numa discoteca e dizem: "Espeta-me um linguadão se estiver correcto, mas a Arábia Saudita importa camelos da Austrália, certo?" E depois é esperar pelo resultado.*

Contudo, nunca idealizei um "irmão de sonho". Como mais novo, não me serve de nada idealizar. Mas é com orgulho que digo que estou feliz com o que me calhou na rifa. O meu irmão é um herói. Não como um Super-Homem que veste um fato de lycra e sai por aí a voar. É o tipo de herói que eu preciso. Alguém que, na eventualidade de eu não conseguir terminar uma francesinha, dará conta do recado. E ainda tem barriga para a sobremesa. Alguém que está disponível a ligar para mim quando perco o telemóvel e não o encontro (quem me dera que também desse para dar um toque para a minha carteira ou relógio quando não sei deles). Além disso, é também uma inspiração para mim. Quando me perguntam de onde advém o meu gosto pela escrita, respondo sempre que provém do meu irmão que quando vai a algum lado e me deixa sozinho em casa, com a preocupação que o caracteriza, deixa na mesinha de cabeceira bilhetes do género: "Olá cara de cu, fui ao pão". Melhor irmão do mundo!


*Acabo de receber informações de que não é assim tão fácil encontrar uma cara-metade. Peço desculpa, nunca foi a minha praia. Não obstante, um dia discuti com uma bela rapariga sobre se se deve colocar Ketchup por cima das batatas ou num local à parte. Chegamos à conclusão de que é como no sexo: umas vezes queremos fazer as coisas à bruta, outras vezes queremos com cautela. E também foi ela que me disse que tal como os judeus usavam a Estrela de David para se distinguirem dos nazistas alemães, também se usam calças skinny para distinguirmos os mitras na rua ou o piropo para identificar os estúpidos. Ainda hoje estimo-a intensamente.