17.9.17

Chorar ao frio e ao frio choramingar

Estar lá fora ao frio, a chorar por uma vida melhor enquanto um ser vivo de quatro patas cheira tudo o que é sítio e passa uma eternidade a lançar jactos de urina nos diferentes vasos lá de casa. "Faz isso duma vez, porra!"


O leitor gosta do Outono? E do Inverno? Sim, e de andar ao frio? E à chuva? Também? É que são coisas diferentes. Cá para mim, o leitor gosta de estar alapado no sofá, ao quentinho, no Inverno, longe do frio a ouvir a chuva a cair. Para mim, isso é que é bom. Só eu sei o quão doloroso é levar a cadela a passear, por exemplo. Estar lá fora ao frio, a chorar por uma vida melhor enquanto um ser vivo de quatro patas cheira tudo o que é sítio e passa uma eternidade a lançar jactos de urina nos diferentes vasos lá de casa. "Faz isso duma vez, porra!" - grito eu no silêncio da noite fria e escura. De repente, caem umas gotas de chuva sobre o meu casaco. Perco completamente a paciência, ou o que me restava dela: "Caga caralho!/Defeca mulher! (Depende muito do estado de espírito). Borra-te toda, não quero saber! Eu só quero arrumar esse acumulado de fezes e ir para casa". O cheiro da merda não me incomoda (dos dejectos, desculpem), apanho tudo enquanto lamento e berro uma vasta lista de vernáculo e volto para casa, triste e cheio de sono. Amanhã é dia de escola. Onde está a 9mm que deixei na mesinha de cabeceira?

Esta é a minha vida. Nunca acaba porque infelizmente não encontro a arma e a minha mãe, como sempre, diz que não sabe dela. Vai-se a ver e estava no bolso do meu casaco ou algo do género. Daria um excelente filme, a minha vida. Daqueles que têm uma estrela no Público, o que significa que é bom. Tem dramatismo, tem tragédia, tem um personagem que não sabe bem para onde se virar, tem tudo e ao mesmo tempo não tem nada. Não prometo que tenha a mesma emoção que os "YouTubers da Casa" empregam nos seus vídeos, mas eles também são um pouco como nós, seres humanos. Nós ficámos eufóricos a ver a bola e gritamos imenso quando alguém da nossa equipa marca um golo. Eles gritam e festejam durante a destruição de um telemóvel caríssimo que muitas crianças adorariam ter e outras já o têm e também o partem como verdadeiros mimados. Nós tentamos ao máximo evitar as grandes filas e estamos constantemente a fugir dos nossos próprios sentimentos. Eles, por contrário, fogem do chão. Que "é lava". Imaginária. Bom, são uma espécie muito mais alegre e isso eu invejo. Invejamos todos. Tenho a idade que tenho e não consigo reagir a uma pedaço de plástico a rodar nos dedos com o mesmo entusiasmo que eles. Às vezes parece que fui retirado das páginas de um livro do Almeida Garrett e lançado à toa a esta realidade loucamente feliz que aparenta ser.


Nota: tristes também são aqueles que corrigem erros ortográficos dando erros ortográficos. É como apoiar o PAN e ser a favor das touradas, não faz sentido.

E porque raio pode o Tony Carreira plagiar músicas, mas os alunos não podem sequer deitar o olho no teste do colega ao lado?

É triste. Como proibir idas à bola em dias de voto ou como aqueles que andaram a choramingar por dinheiro que nem sequer lhes saiu do bolso. "Onde estão os meus ZERO euros que doei às vítimas de Pedrógão Grande, pá? Mas que é isto?! Inacreditável". Infelizmente, contestar sai muito mais barato que ajudar. Enfim, vejamos o lado positivo - além da saída de Portugal do "lixo". Isto, se não tivermos saído do lixo apenas para ir parar a um ecoponto, claro - segundo o meu amigo Woody Allen: "Eu odeio a realidade, mas ainda assim é o melhor local para comer um bom bife". E já que estou a citar os grandes sábios, cá vai outra: "O Porto é o maior"!