4.3.17

Psht, cala-te! Isto não serve para nada

Antes demais, quero já esclarecer uma coisa. Há coisas que não servem para nada. Esta crónica, por exemplo, não serve para nada. Sinceramente, estimado leitor, você também não serve para nada. Ainda assim, isso não diminui a sua importância. Confuso? Eu passo a explicar. Exemplos não faltam. Exemplos de coisas sem utilidade às quais a sociedade dá muita importância, ou coisas muito úteis às quais ninguém liga. Principiemos.

Quando alguém compra uma casa, algo extremamente útil, esse mesmo alguém importa-se com coisinhas sem importância.
Cortinas a combinar com os tapetes é tão importante como combinar uma meia com outra meia do mesmo par. A vida é demasiado curta (sobretudo quando se trata de peúgas). Por outro lado, tomar precauções antes de urinar (sobretudo logo pela manhã) é importante para poupar tempo. Caso contrário, é provável que no final nos deparemos com uma divisão coberta de urina, e depois teremos de limpar, e depois perderemos muito tempo, e depois perderemos o autocarro... E cria-se assim um paradoxo de situações inesperadas derivadas do chichi.

Em suma, antes de comprarem uma casa, investiguem as coisas úteis como por exemplo, a vizinhança. Se a casa estiver alojada perto de um serial killer, comprem imediatamente. Sempre que um assassino em série é capturado pelas autoridades, a vizinhança gaba-o como ninguém. Descrevem-no como um vizinho pacato, uma jóia de pessoa que nunca deu problemas a ninguém. Isto porque, um bom assassino, raramente leva o trabalho para casa. Aliás, se conseguirem viver ao pé de um, o vosso seguro de vida triplicará.

- Então Jacques, tudo bem? Andas desaparecido. Raramente te vejo. Da última vez foi quando te emprestei o meu corta-relva. Ainda hoje não sei para que é que o querias. Tu nem sequer tens jardim. Seja como for, gostei de te ver. Infelizmente, tenho de me despachar. O meu sobrinho está em estado crítico, o coitado precisa de um fígado.

- Também é bom ver-te, vizinho. Ultimamente, tenho estado ocupado. Mas olha, se quiseres tenho ali um fígado. Já é da semana passada, mas ainda está bom.

- Eh pá, ó Jacques, muito obrigado. És o melhor vizinho do mundo. Até te vou oferecer esta caneca que diz: "Para O Melhor Vizinho Do Mundo".

- Agradecido, estava mesmo a precisar de um local para guardar este pulmão esquerdo.

Outra importância sem utilidade são os bebés. Criaturas malignas que se babam, largam fezes em qualquer lado e exigem tudo aos berros, por muito fofas que possam ser, não servem para nada. A não ser chatear. Já agora, uma palavra de apreço para esses diabólicos: Bebés, vós sois cocó.

Outra vergonha é a tropa. Os homossexuais não se podem alistar no exército e ir à tropa. Na tropa, os homens moram todos juntos, tomam banho todos juntos, e inclusive, dormem todos juntos. Olhem só a desfaçatez que é negar a entrada de homossexuais na tropa, sendo que aquilo parece ter sido inventado por eles. Sé é para ser assim, coloquem também uma placa na Disneylândia a dizer: "Proibida a entrada a crianças".

A forma como a sociedade classifica o que é macho ou não, é parva. Desde quando andar à cabeçada num campo cheio de homens atrás de uma bola oval (nem bola é, joguem antes futebol, isso sim, é um desporto louvável) é uma actividade muito masculina, no entanto, dançar agarrado a uma mulher não é? Se é para andar aos amaços, que seja em chicha feminina.

Sei bem que muita gente pode ter ficado ofendida com o que eu acabei de dizer. Posto isto, aviso já: por muito divertido que possa ser para vós, presentearem-me com um excerto de bananos, quero lembrar que isso implicará o contacto físico entre homens. Parem lá com isso. A sério.

O amor, por fim, também é um exemplo de importância sem utilidade. Como tal, vou deixar-vos com um texto esplêndido, devidamente editado, que escrevi há uns dias atrás sobre "a importância que o amor tem nas nossas vidas":

Nos tempos que correm, o ser humano tem a mania de classificar e colocar etiquetas em tudo o que é palpável ou não. Contudo, nunca ninguém foi capaz de apresentar uma definição concreta de "amor". E olhem que o Camilo Castelo Branco bem tentou. Infelizmente, envolveu-se com mais de metade das fêmeas do seu tempo e mesmo assim não conseguiu classificar o que sentia por cada uma delas. Não admira, eram tantas. Que maçada.

Devo dizer que a tarefa não é fácil, muito menos para mim. No entanto, acho que o problema está na importância e utilidade que a sociedade dá ao amor. Pensem bem, o amor não tem utilidade nenhuma. Um automóvel tem utilidade. Um partido político tem utilidade. Já o amor faz parte daquele grupo de coisas muito importantes, mas que não servem para nada. Como o leitor, por exemplo. Estar com sede no deserto à procura de amor, ou entrar num bar desesperado e gritar: "Ó chefe, traz-me aí um copo cheio de amor, pá!" - desculpem lá, mas é só estúpido.

Não obstante, é importante amar. É importante o leitor acordar e saber que há pelo menos um ser no mundo que trocaria um bilhete para ver As Cinquenta Sombras Mais Negras só para estar consigo. E isso, eventualmente, acontecerá a todos vós (e não o digo só porque o filme é péssimo, digo-o porque o amor bate à porta de toda a gente). Só não esperem que ele vos apareça a qualquer momento. Viver a vida, adoecer, tropeçar nos erros do quotidiano, é essencial pois só quando isso acontecer é que se descobrirá quem estará lá para nos apoiar. Nunca nos devemos deixar iludir pelas futilidades do amor, mas sim pela sua complexidade. Portanto, vivam. Vivam amando, porque viver sem amor é como pescar sem cana. Chupa Almeida Garrett, 1-0!

É raro, contudo há uma coisa que além de muito útil é indubitavelmente importante. Trata-se do vosso apoio, leitores, que hoje estão excepcionalmente bonitos. Nos outros dias estão belos, mas hoje, hoje esmeraram-se. Parabéns, lindo penteado. 
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