19.2.17

Devaneios da miudagem e de Cavaco: um estudo

Atenção! Abram os cadernos, hoje vamos estudar estupidez ao mais alto nível e ainda teremos tempo para analisar a obra de um velho presidente.

- Ó setor, esta matéria vai sair no teste?

Evidentemente, aluna, tudo está sujeito a sair no teste.

- Então esta conversa também vai sair no teste, certo?


Rua! Saia!

- Sair, onde, no teste?


Ah! Ah! Ah! Isto foi divertido. Apesar de «setor», segundo o Novo Acordo Ortográfico (que eu, e não só, abomino) ser na verdade um «sector», mas sem o «c». Confuso não é? Pensando bem, o que antes era um professor do Ensino Básico (setor primário), é agora um sector primário (ou seja, agricultura e pescas). Enfim, Portugal. 


Bom, vamos ao que interessa. Na próxima semana, o domingo será dedicado ao cinema (americano), Oscars, e no dia a seguir cá estarei para esmiuçar o problema. Eu bem que poderia dedicar a crónica de hoje ao cinema português, mas vamos antes antes rir de outro declínio.

Não obstante, talvez esta crónica inspire Portugal a remasterizar uma versão portuguesa com base no assunto que vou tratar, na tentativa de impulsionar o cinema nacional. Pensem nisso, vocês [cantores tugas/poetas de karaoke] já fizeram algo parecido, só que tratou-se de um álbum musical em tributo ao Deus do Rock (David Bowie) que, como seria de esperar, não lhe chega aos calcanhares. Mas boa tentativa, tentem agora cantar na vossa língua-mãe.


Ora, recentemente, aqui no país têm ocorrido várias peripécias dignas de um Oscar. Todas elas têm um objectivo em comum. Todas elas retratam um gaiato na sua demanda pelos «20 likes». Um deles até ameaçou cometer suicídio caso não seja bem sucedido na sua missão. E fê-lo com uma faca encostada ao pescoço. O tamanho da faca era mediano, mas o nível de parvoíce do miúdo era bem elevado. Para acentuar ainda mais o desejo/estupidez da miudagem, vou citar um outro indivíduo que também pactuou na estupenda jornada por «likes», provavelmente já o conhecem:

«Uatafoque? Que é que 'tá aqui uma câmara? Oi, 'tás aí? Tás aí pá?... Bem, já agora vou ap'oveitar pa' dizer aqui uma coisa pa' vocês, 'tá bem? Pessoal, eu neste vídeo, quero arrebentar c'os... os likes até Setúbal pessoal. Até Setúbal ó, eu... eu quero pa' aí ... metam likes vai chegar... vinte! Vinte likes, ok pessoal? Tchau!»

Ignoremos a linguagem (os perdigotos e a baba de vez em quando regurgitada) do rapaz, ainda pior que a professora do Charlie Brown. Foquemo-nos na humildade dele. Vamos lá ver, ele até não exige muito. Quer vinte «likes», nada mais, nada menos. O problema é que o moço nutre um grave desconhecimento geográfico. Se de onde ele estava até Setúbal são só vinte «likes», ou ele reside em Setúbal, ou então ele intitula as divisões da casa por «Setúbal».

-  Mãe! Traz lixa! Estava aqui a defecar, mas entretanto distraí-me com as horas a ver vídeos de Minecraft e indivíduos a cortar os telemóveis com uma faca quente!

- Ó filho, tu estás onde?

- Em Setúbal!

No entanto, a questão continua no ar: Porque raio estava ali uma câmara a gravá-lo? Quem vir, parece que foi ele que a colocou lá de propósito. E sabem que mais? Têm razão. Enfim, uns morrem, outros ficam assim. A mocidade, realmente, está perdida. Nem sei o que é pior: os putos, ou o recente livro de Cavaco Silva? Eis a questão.

Viram como eu de repente mudei de temática e critiquei vários assuntos ao mesmo tempo sem qualquer ligação aparente? Para os que não captaram, isto foi uma referência ao Pulp Fiction. Muitos, se calhar, nem sequer conhecem o filme, eu talvez saiba o porquê: o filme é muito bom - algo que alguns não apreciam. Preferem o foleiro.

Ainda assim, eu considero o livro do Cavaco, Quinta-Feira e Outros Dias, pior. O livro tem cerca de 592 páginas. Cavaco escreveu mais palavras num livro do que aquelas que disse em todo um mandato presidencial. E ainda assim, repetiu imenso as mesmas palavras. O Cavaco, ou é extremamente fã do recurso expressivo anáfora, ou então precisa urgentemente de um livro de sinónimos.

Gostei sobretudo da maneira como o nosso velho presidente diz as mesmas coisas, só que de maneira diferente. E eu nem li o livro na íntegra. Para ser sincero, nem li metade.

Contudo, posso assegurar o leitor de que este livro serve de comparação entre o novo e o antigo presidente. Marcelo demonstra carinho de maneiras diferentes. Ora está aos beijinhos em Guimarães, ora está aos abraços no Chiado.

Por outro lado, o Aníbal gaba-se de maneiras diferentes. Se ele diz «Eu cá é que percebo muito de finanças», imediatamente três parágrafos à frente está a dizer «Quem percebe muito de finanças sou eu». E para certificar o coitado do leitor, o Cavaco pergunta «Sabem quem é que sabe muito sobre finanças?», e responde «Sou eu». Aposto que não estavam à espera desta.




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Seja como for, eu agradeço imenso, tanto pelos prazerosos comentários, como pelas milhares de visualizações (e tudo isto em tão pouco tempo. Isto está a aquecer, e ainda agora começou).

No momento em que esta crónica foi publicada, o blog já se encontrava na nona posição (Blogs Portugal – Humor). Nada mau para quem começou em 99999999°, segundo as estatísticas. Um obrigado até Moscovo para todos vós!
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