27.2.17

Ó nigga, tu viste os Oscars, nigga?

Vocês viram? Viram? Viram a 89.ª cerimónia de entrega dos Academy Awards (Oscars)?
Não? Então alapem-se aí a um canto que eu já vos conto. Palavra de cinéfilo.


Capítulo Um - A Academia

Os vencedores de um Oscar são escolhidos por uma entidade de seu nome, Academia. E o que a Academia faz passa por premiar filmes que ninguém viu, mas verá quando souberem que esse filme é um galardoado, magnífico, estonteante, menino bonito da Academia.



Não quero com isto dizer que os filmes premiados são maus, nada disso e muito pelo contrário, as pessoas é que os admiram pelas razões erradas. Um tipo que considerou há uns meses atrás Batman vs Superman (a legião de fãs ainda não acredita. Como é que este colosso levou tantos Razzies para casa? Simples, o filme é - preparem-se - péssimo) filme predilecto do ano, e agora muda a sua opinião para Manchester By The Sea... Algo aqui não está a bater certo. Assim como aqueles que ainda alimentam a saga Velocidade Furiosa e aceitam tudo o que vier à rede, mas no final do ano diziam que afinal queriam era ver O Caso Spotlight ou Birdman, contudo "estava esgotado". As pessoas dizem muita coisa. Há até quem diga que os anões são mentirosos – têm perna curta.

Mas atenção, eu não censuro as pessoas que vêm filmes caso se tratem de overdoses de socos e tiros. Eu também só vejo voleibol feminino por uma razão: rabos. E há magníficas partidas de voleibol que vão além de curvas e contra-curvas. Assim como há excelentes filmes, apesar das inúmeras explosões e narizes partidos ao longo da película. Como é o caso de Mad Max - Estrada De Fúria de George Miller, que arrecadou a maioria dos Oscars no ano passado.

E dentro do género, exemplos não faltam (Steven Spielberg, George Lucas, Peter Jackson, Tim Burton, Michael Bay, James Cameron, J.J.Abrams, etc). Nem sempre a Academia selecciona aqueles que abraçam o politicamente correcto e não arriscam. Este ano, infelizmente, não é um bom exemplo. Apesar do Esquadrão Suicida ter ganho um Oscar, o filme continua a ser uma treta. O único que poderia quebrar a barreira seria o Deadpool (sendo que Doutor Estranho, Monstros Fantásticos E Onde Encontrá-los e Roggue One só se manifestaram a nível técnico, ou pela indumentária e trilha sonora), mas ficou-se pelos Globos de Ouro. Estranho, um travesti barbudo pode ganhar o Festival Eurovisão, mas um tipo com cara de amendoim descascado nem sequer pode ir aos Oscars.

Sendo assim, vou usar como exemplo um realizador que é um génio e um candidato assíduo nos Oscars: Quentin Tarantino. E para isso, tendo como base a sua mais recente obra (nomeada nos Oscars 2016), Os Oito Odiados, dividi esta crónica em capítulos.

Capítulo Dois - Niggaz No Comando

O Quentin Tarantino, além de ser um cineasta monumental, tem uma característica que eu partilho e admiro bastante: ele chateia sem querer chatear. Quem conhece os seus roteiros sabe que a sátira face à criminalidade, violência, racismo e as referências à Guerra Civil são uma poderosa constante e isso valeu-lhe várias ameaças ao longo da carreira. Que vale, existe uma pequena grande coisinha chamada Primeira Emenda (Constituição dos Estados Unidos que garante o direito à liberdade de expressão - dizem eles).

Normalmente, a Academia até gosta dos que "chateiam" (estilo James Baldwin, activista dos direitos civis). Isso ou dos que têm um olhar diferente sobre o romance (tipo Woddy Allen, génio do entretenimento). Infelizmente, os media não pactuam com a crítica, de maneiras que o Pewdiepie (youtuber) apontou o dedo para uma estante, durante um vídeo, e agora é acusado pelo The Wall Street Journal de antissemitismo (aparentemente, a prática de apontar um dedo é considerada uma saudação nazi).

Constante também é o uso da palavra "nigger/nigga", recorrente na crítica ao racismo, e porque os filmes do Tarantino são também conhecidos pela presença do enorme Samuel L. Jackson, que é preto (lembram-se da polémica do ano passado? O único preto nos Oscars era o apresentador, o Chris Rock. Este ano, pretos não faltaram. O Moonlight até tem pretos, homossexuais, pobres, etc. Todos os ingredientes necessários para comover a Academia). Em Portugal, os mitras são autênticos cinéfilos apreciadores do trabalho dele, que os inspira, e por conseguinte, nota-se uma grande influência na maneira como falam. Se conhecem ou não a origem do termo, não sei (muitos também se intitulam dreads e na verdade são carecas), mas aprecio os seus profundos dialectos. Como tal, vou terminar este capítulo com um brilhante diálogo (outra constante nas pérolas do Tarantino) entre niggaz, baseado numa conversa que inclusive foi introduzida pelos memoráveis Gato Fedorento num álbum dos Da Weasel.

Nigga 1: Props, niggaz!
Niggaz 2, 3 e 4: Props, pah.

Nigga 1: Ouve lá nigga, tu és nigga, nigga?

Nigga 2: Eu sou nigga, nigga! E tu és nigga, nigga?

Nigga 3: Eu sou muita nigga, nigga! Sou tão nigga que até chateia, nigga!

Nigga 1: Nah, tu não és nigga, nigga.

Nigga 3: Não sou nigga, nigga? Fogo, as cenas que eu já passei por ser nigga, nigga!

Nigga 4: O que é que tu passaste, nigga?

Nigga 3: Cenas, nigga.

Nigga 1: Nah, nigga, tu não és nigga, nigga. Tu não representas, nigga.

Nigga 3: Ai isso é que represento, nigga. Ouve lá, ó nigga, eu não represento?
Nigga 2: Representas, nigga!
Nigga 3: Ah pois represento, niggaz.
Nigga 1: Também eu, niggaz. Represento tanto que até há quem diga: "Ui o que este nigga representa, niggaz!".
Nigga 2: A mim quando vou na rua dizem: "Olha aquele nigga a representar, nigga!".
Nigga 1: Ah, e o que é que tu representas, nigga?
Nigga 2: Não sei.
Nigga 1: Hum, pois...
Nigga 3: Pessoal, o que é que é nigga?
Nigga 4: Sei lá.
Nigga 1: Não faço ideia.
Nigga 2: Também não sei. Mas diz que é espectacular...

Nigga 2: Niggaz, e se experimentássemos este filme gangster na vida real, niggaz?
Nigga 1: A mim apetece-me antes um copinho de leite morninho, nigga.
Nigga 3: Que rica ideia, nigga. Põe a chaleira ao lume, nigga!
Nigga 2: Na boa, nigga!
Nigga 4: Nigga, o meu pode ser com chocolate?
Nigga 2: À vontade, nigga. Vou já efectuá-lo, nigga.

Nigga 3: Ó nigga, tu viste os Oscars, nigga?
Nigga 2: Claro, nigga. Valeu a pena os cinco cafés que eu ingeri, nigga.
Nigga 1: Eu também vi, niggaz. O Jimmy é um apresentador magnífico, niggaz.
Nigga 2: Concordo, nigga. Só é pena o La La Land não ter vencido, niggaz. Adoro musicais, niggaz.
Nigga 1: Também eu, nigga. Mas preferia que ganhasse aquele dos extraterrestres, nigga.
Nigga 4: Esse ou aquele sobre as gajas da NASA, niggaz.
Nigga 3: Ou aquele com o fantástico Homem-Aranha, niggaz.
Nigga 2: O do Mel Gibson com o Garfield? Népia, nigga! O La La Land tem uma rapsódia de músicas soberba, nigga. E ainda assim não ganhou tudo, niggaz.
Nigga 3: Pois nigga, mas os niggaz vestem-se normalmente e aquilo até para melhor figurino foi nomeado. Nigga, não faz sentido, nigga. Ter ganho a maioria das estatuetas foi um crime, nigga.
Nigga 2: Crime, nigga? Crime foi eles terem anunciado a vitória do La La Land e de seguida anunciarem a do Moonlight, nigga. Nigga, o meu coração não aguenta, nigga. Aqueles niggaz que aprendam a ler, nigga.
Nigga 1: Hey, niggaz, será que também se enganaram quando anunciaram a vitória do Donald Trump, niggaz? Ainda há esperança, niggaz. Só lamento que o nosso nigga Denzel Washington não tenha ganho uma estatueta dourada, niggaz.
Nigga 4: Mas o nigga muçulmano venceu ao do Quem Quer Ser Um Milionário, niggaz.
Nigga 3: E o filme do coelho e da raposa, hem? Uma fábula estupenda, niggaz. Muito bem atribuído, niggaz.
Nigga 2: A Meryl Strep também anda sempre nomeada, niggaz. Ela nem dorme, niggaz. 
Nigga 3: Exacto nigga, mas ganhou a Emma, nigga. 
Nigga 1: E os Affleck, niggaz? O irmão mais novo ganhou o Oscar para melhor actor, enquanto que o mais velho ganhou a Framboesa d'Ouro para pior actor juntamente com o outro que dispara raios pelos olhos, niggaz. Ó niggaz, que cena, niggaz.
Nigga 2: Ao menos ganha alguma coisa, nigga. Nigga, aqui em Portugal só ganhamos um Urso d'Ouro, nigga.
Nigga 3: Ó niga, por falar em ursos. Nigga, o Balu também ganhou uma estatueta, nigga.
Nigga 2: Yah, nigga. Até chorei... Eu sempre fui fã d'O Livro da Selva, nigga.
Nigga 4: Niggaz, eu cá fui à estreia do filme no cinema, niggaz. Extrema nostalgia, niggaz.
Nigga 1: Eu tenho um primo nigga que já o viu mais de vinte vezes, niggaz.
Nigga 2: A sério, nigga? Nigga, esse nigga deve ser mesmo um grande fã, nigga...
Nigga 1: Não nigga, nada disso. O nigga tem alzheimer, nigga.

(silêncio constrangedor)

Capítulo Três - Era Suposto Serem Seis Capítulos Como No Filme, No Entanto, O Tempo Escasseia E Os Leitores Querem Ver A Novela, Ao Passo Que Eu Tenho De Acariciar A Minha Cadela Fofa Como Tudo E Relaxar

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Agora voltem lá às vossas vidinhas, vai dar a novela, onde dois personagens, eventualmente, terminarão uma relação de profundo amor. Mas não se preocupem, eles depois voltarão a namoriscar, outra vez, mais tarde, ainda só vai no episódio 700.