15.2.17

(Des)amor de Perdição

Ó leitor, chegue aqui…

Sabe do que é que as gajas boas, aquelas me'mo me'mo boas, sabe do que é que elas gostam? Não?!

Caros plebeus desafortunados e desamados, elas gostam é do Dia dos Namorados, também conhecido por Dia de São Valentim, ou como eu gosto de lhe chamar, Dia de Redundar Fortemente em Forrobodós. As mulheres sempre foram grandes fãs de certames desnecessários importados do estrangeiro. Comemorar o amor é só mais uma estratégia para esvaziar a carteira do homem e aumentar o materialismo da mulher.

Eu cá, pessoalmente, vilipendio vivamente (apreciem a aliteração) esse dia. Se calhar é por isso que sou gajo. Mas também, eu repudio fortemente tanta coisa. Uma delas é o facto de ninguém ter esbofeteado as costas do Hitler com uma posta de bacalhau, seguida de três alheiras no bucho. Até porque ele suicidou-se, ou seja, morreu fazendo aquilo que mais gostava, que era matar. Tudo bem que ganhámos a guerra, mas foi ele que se divertiu até ao fim.

Continuando, quanto ao amor, vamos por partes, a gente até a falar de amor pode-se perder.

Comecemos pelo nível mais elevado, o casamento.
Se casamento é sinal de amor, porque razão sempre que um homem é assassinado, a primeira suspeita é a mulher. E vice-versa, a esposa morre, imediatamente o marido é o primeiro a ser interrogado em caso de homicídio.

Eu se calhar até percebo. O casamento contém demasiado amor escarafunchado no papel e na aliança. E todos sabem que o que é demais chateia, e por vezes, o amor em demasia está mais propício a ser desvalorizado. Por exemplo, o Cristiano Ronaldo não tem amor ao dinheiro. - E olhem que Ronaldo e dinheiro combinam na perfeição. - Se tivesse tanto amor ao dinheiro como eu, não se punha a gastá-lo em drones para depois fazer-lhes tiro ao alvo com bolas de futebol. Ou então não tem respeito pela tecnologia.

Uma curiosidade sobre o amor, sabem onde é que se fala redundantemente em amor? Aulas de português, sobretudo agora que estamos a estudar a obra de Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição. Ao longo do décimo primeiro ano é possível notar o quão diferente o Camilo é em relação aos outros escritores.
O autor, ao contrário do Padre António Vieira que era louco por Deus, é doente por gajas. Se bem que as engata de uma forma pouco contemporânea. «Moça formosa» é uma maneira muito panhonha de dizer: «Hmm, anda cá saltar à corda, gostosa».

Além disso, o Camilo vai directo ao assunto, contrariamente ao Eça de Queirós que antes de incitar o incesto e colocar tudo no coito selvagem (sim, porque Os Maias é uma mistura de Guerra dos Tronos e As 50 Sombras de Grey -, mas sem a parte das chibatadas nas nalgas. - Malditos americanos amantes do plágio e de nádegas de chichinha roxa), antes de todas essas traquinices, ele descreve o IKEA – cada um leu à sua maneira - ao pormenor.

Não obstante, ao contrário do que se passa no IKEA, no Ramalhete não se vende LEGO para adultos. No Ramalhete, os ricos lavam os seus testículos em chafarizes (os seus saquinhos devem ficar realmente muito bem esfregadinhos. Quem dera às minhas miudezas).

Por fim, em comparação ao Almeida Garrett, ambos são muito parecidos, contudo, o Camilo papou metade do sexo feminino da sua época. Ele era o Sr.Fornicação, come tudo sem parar, lança o dado, (Ups!) mais uma gaja tens de lhe dar.

Relativamente ao personagem heróico, que de herói não tem nada, e ainda por cima chama-se Simão Botelho (vê-se logo que os pais perderam numa aposta), digamos que ele é o retrato romântico de um forcado. Sempre vestido com jaquetas, calças apertadas e parcialmente esmiuçadas, e a gritar por um outro ser vivo na tentativa de o agarrar, quando na verdade, tem tudo para acabar morto. E no caso dele isso aconteceu e até teve sorte.

Se a história fosse realmente intemporal, se a forte religiosidade se mantivesse, o Simão procederia à eutanásia, mas o desfecho seria muito mais melancólico pois, segundo a Igreja, a eutanásia não permite a entrada no Céu. - Deus criou o mundo e ainda tem tempo para fazer de segurança na discoteca divina.

Caso a história se passa-se na América, não haveriam quaisquer baixas pois o Donald Trump dir-lhe-ia das boas: «Botelho you're fired! Now go and grab Teresa by the pussy!» De maneiras que tudo acabaria bem, ainda se dizimavam uns quantos muçulmanos, e no final, os heróis ofereciam uma dúzia de latas de laca ao presidente.

No entanto, a intemporalidade da obra não se verifica nos tempos actuais sobretudo no que concerne às estupidezes que o amado comete pela respectiva amada. Já ninguém se suicida por amor como em Amor de Perdição, Os Maias, ou até mesmo Romeu e Julieta.

Hoje em dia, a namorada pede ao namorado («ó môr») que lhe envie selfies mordazes que sensualizam a mocidade contemporânea. Como por exemplo, a inserção de um lápis no orifício (o que nem faz lá muito sentido. Há coisas melhores para colocar no orifício, como uma caneta. Priorizem as esferográficas, elas são mais bonitas. A menos que sejam o Ederson, sendo assim não entra nada).

E para quê tudo isto? Facebook («Feicebuque»)! Pensava eu que quando se estava apaixonado, um dos sintomas seria a contracção do esfíncter, quando na verdade, quanto mais apaixonado, menos o olho fica resguardado.

É possível formular vários provérbios adequados a esta contemporaneidade, dos quais:
- “Não olhes para aquilo que eu digo, atenta naquilo que eu enfio”; 
- “Somos o que penetramos”; 
- “Mais vale um recto perfurado que dois utensílios de escrita na mão”.
E assim concluo mais uma crónica para a vida. Eu até vos presenteava com mais exemplos, mas tenho urgentemente de hidratar o meu esternocleidomastóideo. Estou a brincar, eu somente queria – "inserir" – aquela extensa palavra de modo a exibir o meu intelecto exacerbado. É assim que eu as engato, aprendi com o Fernando Pessoa há uns anos atrás.

Nota: Já agora, tanto o Amor de Perdição como Os Maias foram vítimas de uma versão cinematográfica. Vejam, as narrativas de ambos os filmes têm mais buracos que um queijo suíço, é de rir às gargalhadas. Mas de cinema falo depois, aproximam-se os Oscars.

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Agradeço desde já pelo feedback que o blog tem recebido. Em pouquíssimos dias, já está em décimo lugar na Categoria Humor e conta com inúmeras visualizações em Portugal, e não só (emigrantes ou lá o que são - E.U.A., Reino Unido, França, Alemanha, Moçambique, etc... -  «I love you all»).

Obrigado!